terça-feira, setembro 17, 2013
sexta-feira, dezembro 02, 2011
Compreender - Aceitar - Respeitar
Em resumo, entender custa muito pouco porque a ciência basta e às vezes sobra. Mas o respeito torna-se um pouco mais difícil porque apela muitas vezes ao conflito inevitável de emoções diferentes e muito mais difícil ainda é aceitar, porque joga com a periclitante solidez da legítima solidão das emoções próprias: eu, irredutível ao outro, se aceito essa condição, envolvo-me com o que não sou e se do outro espero uma dádiva, contrario a própria irredutibilidade.
Acho, para acabar, que compreender é fácil; aceitar, é já incómodo; respeitar aproxima-se do heroico, porque é aceitar a subversão de si mesmo para que outro seja. Contudo, é na subversão de si próprio que o amor acontece.
quarta-feira, julho 20, 2011
domingo, maio 01, 2011
Ah! Só mais uma coisa; hoje elegeram mais um futuro Santo. Um tal de J. Paulo II. Já nem sei quantos Santos existem, mas dos milagres que fazem, não me esqueço. Deixa-te estar sossegada que isto por aqui está pior do que no tempo do Elias, do racionamento e do milho de fora.
Um xi coração e até breve
Do teu filho Tonho Loiro
sexta-feira, março 25, 2011
Cada caso é um caso
Num café em Coimbra, uma senhora idosa, certamente a proprietária, lamenta-se: - desculpe, mas a máquina não aquece e nem sei porquê ainda ontem estava boa. E mexia nos botões ao dispor para a máquina responder como na véspera. Conseguiu: - já está, afinal é bem verdade que as máquinas têm sempre razão. Esperei e bebi o café reconfortante.
A peripécia deu para meter conversa: - afinal a máquina tem sempre razão; é a razão que nem sempre a tem… Ora agora é que o senhor disse uma grande verdade. É isso mesmo. E repetiu prolongadamente a sentença, nem para eu ouvir, nem para se ouvir, mas ecoando-a ao ritmo de acenos visíveis e concordantes com o débito de reminiscências ocultas da memória, - é isso mesmo a razão nem sempre tem razão… Estaria a senhora a reviver em silêncio sem precisar de Pascal as razões do seu próprio coração que a razão desconhece?
Saio do café. Medito: por que é que a razão se dá tão mal com a diferença a ponto de inventar as máquinas, fascínio das técnicas,"hossanas" da ciência, para endeusar um artefacto mecânico que só por artifício consegue que a razão tenha sempre razão devido à inércia do material… Pobre razão que, quando exercida pelo homem e face à inexorável resistência do mundo e da vida, rende-se, calada, à confissão de subordinação mais pungente do ser humano à realidade: “cada caso é um caso”.
terça-feira, outubro 12, 2010
É uma e catorze de hoje. Há setenta e cinco anos, meia noite menos um quarto, nasci. Recebi um livro de prenda: "Le goût de vivre et cent autres propos" de André Comte-Sponville.
Uma dedicatória: uma oval feita com um movimento único de uma esferográfica; o interior da oval salpicada de pontinhos desordenados. "João Lamas" no meio da oval ao comprido. Legendas para identificar o desenho tosco: Oval, uma travessa; pontinhos, arroz-doce; "João Lamas", letras em canela. No resto do espaço em branco isto:
Esta folha em branco é uma travessa de arroz-doce feita com o carinho e o amor da tua mãe, a minha doce avó Piedade...
O teu nome está escrito com canela que hoje é oiro vivo para te abrir o palato no gosto de viver... 11 Outubro 2010.
E vim aqui registar, olhos embaciados, esta grata emoção: que bom ter sido filho para agora me comover por ser pai.